segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

POR ESTE ANDAR OS PORTUGUESES...[ II Parte]

A Saúde encerra o ano fechando mais 5 urgências, 1 bloco de partos, 3 SAP.

Para pouca saúde mais vale nenhuma.


Faltará pouco para que ao ministro só lhe reste fechar o próprio Ministério.

O ministro, que ostenta em todas as sondagens o título incontestado de mais impopular membro do Governo, explicou que o fecho de estabelecimentos hospitalares é para o bem das populações.
Os portugueses, que são tendencialmente lorpas, ainda não tinham percebido.
Mas, felizmente, os lorpas dos portugueses escolheram um governo que lhes deu um ministro tão alumiado como o da Saúde para lhes abrir os olhos. Pois não se está mesmo a ver que a solução da saúde é fechar hospitais, como a da educação é encerrar escolas, como a do emprego é liquidar empresas?


E é assim que, para o bem das populações, o ministro meteu ombros à tarefa de desmantelar o Serviço Nacional de Saúde, bandeira de socialistas quiméricos e fora de prazo, reduzindo-o à expressão mais simples de enfermarias para indigentes.
De resto, quem quiser saúde que a pague e a Constituição da República que se dane mais as suas arengas sobre serviços e cuidados de saúde tendencialmente gratuitos.


A cruzada do ministro da Saúde, que atinge este pico empolgante no final do ano, tem sido pregada por uma alegada Comissão Técnica, sem nomes nem rostos, que mais não deve ser que um heterónimo do próprio ministro para as decisões mais impopulares.
De nada lhe serve porque os portugueses, para além de lorpas, são ingratos. De maneira que, sondagem após sondagem, o ministro lá vai caindo, caindo, caindo, caindo, caindo sempre, e sempre, ininterruptamente, nas profundezas da impopularidade.
Bem lhe importará.

No dia em que cair de vez, sobe.

J.P.G.

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domingo, 30 de dezembro de 2007

DA OPUS DEI À MAÇONARIA: A INCRÍVEL HISTÓRIA DO BCP

Em países onde o capitalismo, as leis da concorrência e a seriedade do negócio bancário são levados a sério, a inacreditável história do BCP já teria levado a prisões e a um escândalo público de todo o tamanho.
Em Portugal, como tudo vai acabar sem responsáveis e sem responsabilidades, convém recordar os principais momentos deste case study, para que ao menos a falta de vergonha não passe impune.


1. Até ao 25 de Abril, o negócio bancário em Portugal obedecia a regras simples: cada grande família, intimamente ligada ao regime, tinha o seu banco.
Os bancos tinham um só dono ou uma só família como dono e sustentavam os demais negócios do respectivo grupo.
Com o 25 de Abril e a nacionalização sumária de toda a banca, entrámos num período revolucionário em que a banca ao serviço do povo se traduzia, aos olhos do povo, por uns camaradas mal vestidos e mal encarados que nos atendiam aos balcões como se nos estivessem a fazer um grande favor. Jardim Gonçalves veio revolucionar isso, com a criação do BCP e, mais tarde, da Nova Rede, onde as pessoas passaram a ser tratadas como clientes e recebidas por profissionais do ofício.
Mas, mais: ele conseguiu criar um banco através de um MBO informal que, na prática, assentava na ideia de valorizar a competência sobre o capital.
O BCP reuniu uma série de accionistas fundadores, mas quem de facto mandava eram os administradores - que não tinham capital, mas tinham know-how.
Todos os fundadores aceitaram o contrato proposto pelo engenheiro - à excepção de Américo Amorim, que tratou de sair, com grandes lucros, assim que achou que os gestores não respeitavam o estatuto a que se achava com direito (e dinheiro).


2. Com essa imagem, aliás merecida, de profissionalismo e competência, o BCP foi crescendo, crescendo, até se tornar o maior banco privado português, apenas atrás do único banco público, a Caixa Geral de Depósitos. E, de cada vez que crescia, era necessário um aumento de capital.
E, em cada aumento de capital, era necessário evitar que algum accionista individual ganhasse tanta dimensão que pudesse passar a interferir na gestão do banco.
Para tal, o BCP começou a fazer coisas pouco recomendáveis: aos pequenos depositantes, que lhe tinham confiado as suas poupanças para gestão, o BCP tratava de lhes comprar, sem os consultar, acções do próprio banco nos aumentos de capital, deixando-os depois desamparados perante as perdas em bolsa; aos grandes depositantes e amigos dos gestores, abria-lhes créditos de milhões em off-shores para comprarem acções do banco, cobrindo-lhes, em caso de necessidade, os prejuízos do investimento.
Desta forma exemplar, o banco financiou o seu crescimento com o pêlo do próprio cão - aliás, com o dinheiro dos depositantes - e subtraiu ao Estado uma fortuna em lucros não declarados para impostos.
Ano após ano, também o próprio BCP declarava lucros astronómicos, pelos quais pagava menos de impostos do que os porteiros do banco pagavam de IRS em percentagem.
E, enquanto isso, aqueles que lhe tinham confiado as suas pequenas ou médias poupanças viam-nas sistematicamente estagnadas ou até diminuídas e, de seis em seis meses, recebiam uma carta-circular do engenheiro a explicar que os mercados estavam muito mal.


3. Depois, e seguindo a velha profecia marxista, o BCP quis crescer ainda mais e engolir o BPI.
Não conseguiu, mas, no processo, o engenheiro trucidou o sucessor que ele próprio havia escolhido, mostrando que a tímida renovação anunciada não passava de uma farsa.
E descobriu-se ainda uma outra coisa extraordinária e que se diria impossível: que o BCP e o BPI tinham participações cruzadas, ao ponto de hoje o BPI deter 8% do capital do BCP e, como maior accionista individual, ter-se tornado determinante no processo de escolha da nova administração... do concorrente!
Como se fosse a coisa mais natural do mundo, o presidente do BPI dá uma conferência de imprensa a explicar quem deve integrar a nova administração do banco que o quis opar e com o qual é suposto concorrer no mercado, todos os dias...


4. Instalada entretanto a guerra interna, entra em cena o notável comendador Berardo - o homem que mais riqueza acumula e menos produz no país - protegido de Sócrates, que lhe deu um museu do Estado para ele armazenar a sua colecção de arte privada.
Mas, verdade se diga, as brasas espalhadas por Berardo tiveram o mérito de revelar segredos ocultos e inconfessáveis daquela casa.
E assim ficámos a saber que o filho do engenheiro fora financiado em milhões para um negócio de vão de escada, e perdoado em milhões quando o negócio inevitavelmente foi por água abaixo.
E que havia também amigos do engenheiro e da administração, gente que se prestara ao esquema das off-shores, que igualmente viam os seus créditos malparados serem perdoados e esquecidos por acto de favor pessoal.


5. E foi quando, lá do fundo do sono dos justos onde dormia tranquilo, acorda inesperadamente o governador do Banco de Portugal e resolve dizer que já bastava: aquela gente não podia continuar a dirigir o banco, sob pena de acontecer alguma coisa de mais grave - como, por exemplo, a própria falência, a prazo.

6. Reúnem-se, então, as seguintes personalidades de eleição: o comendador Berardo, o presidente de uma empresa pública com participação no BCP e ele próprio ex-ministro de um governo PSD e da confiança pessoal de Sócrates, mais, ao que consta, alguém em representação do doutor honoris causa Stanley Ho - a quem tantos socialistas tanto devem e vice-versa.
E, entre todos, congeminam um take over sobre a administração do BCP, com o agrément do dr. Fernando Ulrich, do BPI.
E olhando para o panorama perturbante a que se tinha chegado, a juntar ao súbito despertar do dr. Vítor Constâncio, acharam todos avisado entregar o BCP ao PS. Para que não restassem dúvidas das suas boas intenções, até concordaram em que a vice-presidência fosse entregue ao sr. Armando Vara (que também usa dr.) - esse expoente político e bancário que o país inteiro conhece e respeita.


7. E eis como um banco, que era tão independente que fazia tremer os governos, desagua nos braços cândidos de um partido político - e logo o do Governo.
E eis como um banco, que era tão cristão, tão opus dei, tão boas famílias, acaba na esfera dessa curiosa seita do avental, a que chamam maçonaria.


8. E, revelada a trama em todo o seu esplendor, que faz o líder da oposição? Pede em troca, para o seu partido, a Caixa Geral de Depósitos, o banco público.
Pede e vai receber, porque há matérias de regime que mesmo um governo com maioria absoluta no parlamento não se atreve a pôr em causa.
Um governo inteligente, em Portugal, sabe que nunca pode abocanhar o bolo todo. Sob pena de os escândalos começarem a rolar na praça pública, não pode haver durante muito tempo um pequeno exército de desempregados da Grande Família do Bloco Central.


Se alguém me tivesse contado esta história, eu não teria acreditado.
Mas vemos, ouvimos e lemos. E foi tal e qual.


Miguel Sousa Tavares

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sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

POR ESTE ANDAR OS PORTUGUESES...

Por muito que se auto-elogie e chame diariamente a atenção dos portugueses para os Grandes Feitos Históricos que consegue todos os dias, desde o lavar dos dentes ao escovar do fato, o nada egocêntrico e cultíssimo José Sócrates não terá hipóteses de brilhar nos futuros compêndios de História com a mesma intensidade do seu discreto colega Correia de Campos.

Este, sim.


Será o ministro deste governo que mais referências terá daqui a muitos anos. E não apenas por ter fechado maternidades, por todo o país, e aberto aborterias e salas de chuto no seu lugar. Nem apenas por ter retirado os últimos Serviços mínimos de Assistência Permanente em resposta às populações que reivindicavam, pelo menos, um Serviço Básico de Urgências. Também não só por ter abandonado centenas de milhares de portugueses à sua sorte substituindo essas maternidades, serviços médicos, urgências e SAPs por ambulâncias. Nem sequer por estar agora a obrigar os utentes a pagar as viagens nessas mesmas ambulâncias, como se de turismo se tratasse, se quiserem ser transportados para os poucos hospitais centrais que ainda restam, a 40 cêntimos por quilómetro, vezes centenas de quilómetros...

Mas por ter tido a coragem de implementar todos estes benefícios de peito aberto e sem receio de quaisquer represálias por parte da população a quem está, rápida e frontalmente, a retirar os últimos sistemas de suporte de Vida e de Saúde consagrados na Constituição, condenando-a, por isso, a uma morte prematura.

Parabéns, Correia de Campos !
Acaba de mostrar a Portugal e ao mundo que este povo a todas as vilanias pode ser submetido, porque não reage.
Este povo - fica provado! - a tudo se conforma sem nunca se revoltar.
Os futuros governantes ficam por isso a saber que poderão, também eles - quando chegar a sua vez de se banquetearem com esta nossa fantástica democracia - recorrer a todas as medidas para oprimir, para deixar morrer e até para apressar à cova boa parte deste povo lúcido, mui letrado, consciente dos seus direitos, inteligente e reivindicativo, anti-futeboleiro e muito mais culto que a média europeia - como Correia de Campos e Sócrates bem sabem - que é o nosso.

Quem tem a coragem de fazer a um País europeu, em 2007, o que Correia de Campos está a fazer HOJE, merece uma estátua em cada praça.
Porque em qualquer país da Europa e - atrevo-me a afirmar - do mundo - já Correia de Campos tinha sofrido umas inusitadas solicitações no alto daquele toutiço há muito.

Por isso, não resisto a dirigir-me directamente a este grande mestre investigador da sociologia tuga actual:

Muitos Parabéns, Grande Ministro da Nação!
E continue a sua Obra...
Acabe com o resto dos Hospitais, com as Maternidades, com as Urgências e os SAPs em todo o país, que não há problema nenhum desde que deixe 2: um em Lisboa e outro no Porto.
Com uma ambulância a substituir várias equipas médicas e a cobrir o resto do país - que é paisagem, como V. Ex.Cia bem sabe - resolve perfeitamente o problema.

Quanto ao pormenor do excesso e concentração de médicos nesses 2 Hospitais centrais não se preocupe: faça como a sua colega fez com os professores.
Ponha-os a fazer formação contínua nas centenas de aborterias que se estão a criar, se quiserem manter o emprego, ou a tirar cursos de eutanásia simplex, se quiserem subir na carreira.

Já fez as contas àquilo que poupará este país se se finarem mais 300 mil doentes, velhinhos e reformados por ano?
Com os milhões que o Estado poupará em medicamentos e reformas nesta patriótica Solução Final, o seu Primeiro poderá mandar construir não um só aeroporto na Ota, mas também um outro em Alcochete!
Um TGV de Lisboa para cima e outro do Porto para baixo... e em linhas separadas!
E mais 50 estádios de futebol!
E promover mais 200 cimeiras daquelas que conseguem derreter 100 milhões em menos de um fósforo!
Que mais pode este povo exigir para ser Feliz?

Tem noção, V. Ex.cia, do Bem que pode fazer a este país se substituir o caminho longo e tortuoso do Hospital pelo caminho célere e pacificador do cemitério a todo e qualquer velhinho que apanhe uma constipação?

Tem noção de quanta dor continuada e despesa efectiva vai conseguir poupar à Nação, Grande Português?
V. Ex.Cia descobriu, finalmente, a pólvora!!!

Quando esta auspiciosa geração actual (provavelmente fruto de alguma compostagem ETARica que correu mal) desaparecer, V. Ex.Cia ficará conhecido, para a posteridade, como o ExterminaTuga Implacável.

Aliás, nós é que andamos distraídos. Bastava termos tido a perspicácia de comparar as óbvias semelhanças entre a V. compleição física e a do Swarzenneger para facilmente se identificarem os sinais evidentes do paralelismo agora revelado entre as duas carreiras profissionais homónimas.

Sócrates terá passado ao lado de uma brilhante carreira como vendedor de automóveis em 2ª mão. Por isso se dedicou a uma actividade menos exigente em termos intelectuais, igualmente baseada na conversa (trabalhar faz calos), mas em que não é preciso conseguir vender nada a ninguém nem apresentar números ao patrão, como a que exerce hoje.

Mas V. Ex.Cia, não!
V. Ex.Cia, em termos políticos, é um verdadeiro Dotado! E deixa uma Obra tão grandiosa em matéria de Saúde Pública que será - não tenho a menor dúvida! - tão recordado em Portugal como o Truman o é, ainda hoje, em Hiroshima.

Esperando vivamente que V. Ex.Cia, o seu patrão, e os patrões de ambos apanhem uma constipação aqui no interior daqui a uns meses, me subscrevo
.

J.T.

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quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

É ESTA A "GRANDE" EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO DO GOVERNO DO JOSÉ SÓCRATES

Na ânsia louca de mostrar ao mundo que conseguiu transformar um pais de analfas num país de leterados, eis o que Sócras está a fazer a Portugal.

Sem mais palavras.

O último a sair apague a luz.

Clique na imagem para ler na integra



J.T.

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PALAVRA


Não se entende a expectativa e a polémica que andam por aí sobre a ratificação do Tratado de Lisboa.



Claro que desta vez tem de haver referendo.
É essencial
, como disse a seu tempo o primeiro-ministro, homem de palavra.

É certo que os empresários, e também o mandatário da candidatura de Cavaco Silva à chefia do Estado, discordam do referendo.
Já se sabe que mesmo no PS há vozes e nozes.
dirigentes e militantes do PS a favor do referendo e da promessa eleitoral que o PS fez aos portugueses, como há socialistas de recente extracção que consideram o Tratado excessivamente complicado para que fique sujeito à decisão do cidadão comum, da gentinha que paga impostos e que elege o poder político.
Também se sabe que o PSD era mas já não é a favor do referendo, o que dá ao PS uma oportunidade rara para exibir uma diferença entre os dois partidos, como deu a Luís Filipe Menezes uma oportunidade de se distinguir de Luís Marques Mendes.

A liderança do PS anda a atrasar o anúncio de uma decisão.
Mas isso é apenas para manter qualquer coisa na agenda política.
Se não fosse a questão da ratificação do Tratado o que se discutiria por esta altura?
A filiação partidária do Pai Natal?

De maneira que assim que passem as festas, teremos o anúncio formal da decisão prometida aos eleitores pelo PS, como forma de legitimação democrática do processo de construção europeia.
É essencial, Sócrates, Outubro de 2004.
A ratificação do Tratado deve ser precedida de referendo popular, Programa do Governo, Fevereiro de 2005.
Pelo que o Governo mantém o objectivo de referendar o Tratado.
Mantenho, Sócrates, Dezembro de 2006.
O PS e os seus líderes são instituições e pessoas de palavra. Ou não?

J.P.G.

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O DESMANTELADOR

Enquanto, às segundas, quartas e sextas, propõe pactos ao PS, às terças, quintas e sábados, Luís Filipe Menezes tenta desesperadamente fazer ou dizer alguma coisa que o distinga de Sócrates.
A tarefa já seria hercúlea para um homem só, quanto mais para um homem só e mal acompanhado, pelo que Menezes contratou uma empresa de comunicação para lhe ir dando dicas.
Ora, a principal dica que parece ter recebido até hoje é a de que, quando Sócrates diz mata!, Menezes deve dizer esfola!.
Sócrates despede?, privatiza?, liberaliza?


Menezes não se fica em meia dúzia de meses, desmantelará o Estado que oprime as pessoas.
Além de liberalizar a legislação laboral, porá o Estado fora do ambiente, das comunicações, dos transportes, dos portos e acabará com o que chama de monopólio (supõe-se que do Estado) na saúde, na educação e na segurança social.
Até as prestações sociais serão contratualizadas com privados e teremos, assim, os privados a despedir por conta da liberalização da legislação laboral e, depois, a pagar subsídios de desemprego por conta do Estado, ficando com uns trocos pelo incómodo.
Tudo em meia dúzia de meses é obra.
Mas não subestimemos Menezes, que, em metade desse tempo, já desmantelou o que sobrava da credibilidade do PSD.


M.A.P.

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O "LIFTING" NACIONAL

Com uma campanha de três milhões comprada a uma agência de publicidade, o Governo quer apagar - vem no texto de apresentação da campanha - a imagem de subdesenvolvimento, iliteracia, corrupção e recorrentes indicadores estatísticos de miséria de Portugal.
O ministro da Economia é um homme du monde e, para milagres, não vai ao Professor Karamba, vai a uma agência de publicidade.
Em vez do Abracadabra! do Professor, a agência pronuncia as palavras mágicas West Coast of Europe e o país transforma-se de um momento para o outro, em (ainda a crer no texto de apresentação da campanha) surf, qualidade de vida, Hollywood, criatividade, entretenimento, Los Angeles, S. Francisco, Las Vegas, Silicon Valley.


Para o lifting nacional ser total, a agência usou imaginosamente, em vez de Amália, uma foto de Marisa, em vez de Eusébio, Mourinho e Cristiano Ronaldo (só falta a nova basílica para a trilogia Fado, Futebol & Fátima ficar completa).
A agência quis ainda (não é invenção do cronista, quis mesmo!) mudar a bandeira, pois isso constituiria um evento mundial maior do que, coisa banal, acabar com a iliteracia, a corrupção e a miséria, mas o ministro hesitou.
A bandeira ficará para depois.
Para quando Tony Carreira acabar de escrever o novo hino.

M.A.P.

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PROVINCIANISMOS

Para Sócrates, a imprensa portuguesa é um clube de futilidades que pratica a conspiração ao serviço dos interesses instalados.

Primeiro foi a entrevista ao El País. Agora é o retrato em confidência ao Libération.
No entanto, o primeiro-ministro não é tão generoso com a imprensa portuguesa.
Seria até de bom tom e democrático que os portugueses pudessem conhecer o pensamento do primeiro-ministro em prosa comum e em jornal nacional.
Mas não.
Para Sócrates, a imprensa portuguesa é um clube de futilidades que pratica a conspiração ao serviço dos interesses instalados.
Na verdade, talvez Sócrates evite a excessiva proximidade daquilo que é familiar.
Ao optar por um orgão de imprensa internacional, a distância e a relativa novidade protegem o primeiro-ministro dos efeitos indesejáveis de uma entrevista aberta sobre a realidade do País e da governação.


Mas a confidência ao Libération revela a alma do primeiro-ministro. E a alma exibe o velho mito da política portuguesa – o jovem da província, de origem humilde, que subiu na vida pelo mérito do trabalho e que chegou à política para ser o homem providencial.
Salazar vinha da província e de um meio povoado por gente humilde. Cavaco Silva deixou a província e reinventou o mito da humildade e da competência na política democrática.
Em cada época histórica, Salazar e Cavaco foram homens providenciais que prometeram a salvação nacional ou a tão desejada modernização. Na galeria dos homens providenciais, Sócrates é o herdadeiro político de Cavaco Silva.
O programa político de Sócrates também ambiciona a modernização de Portugal. Em nome da humildade e da competência, Sócrates imagina-se um prodígio e reclama uma autoridade que o País hesita em compreender.
Separados pela família política, unidos pela história de vida, Sócrates e Cavaco são o mais genuíno produto da tradição política nacional.


Percebe-se pois a confissão do primeiro-ministro ao afirmar que não tem aliados entre os intelectuais portugueses, nem apoiantes na aristocracia de esquerda.
Ao confessar a sua admiração pelo trabalhismo britânico e pela renovação socialista de Blair, ao afirmar o socialismo à la française como ultrapassado, Sócrates ostiliza a grande intelectualidade de Esquerda, demasiado conservadora, demasiado francesa, demasiado empenhada.
Ao adicionar a origem provinciana e arrancada à miséria, Sócrates separa-se da velha aristocracia de Esquerda, demasiado instalada, demasiado burguesa, demasiado elitista.
No lamento de Sócrates reside a força de Sócrates.


C.M.A.

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A ESCADA DE JACOB

O ano que fecha portas foi muito mau. Graves economistas declaram a pés juntos que o próximo será pior. Os adventistas de Sócrates pregam que vivemos no melhor dos mundos. E a maioria de nós esforça-se por amarinhar pela escada de Jacob, na melancólica fé de que chegará lá acima - local incerto e abstracto. O varar do tempo amarrota toda a gente; mas há gente muito mais amarrotada do que outra. E o pior é a alma que se dissolve, a esperança agredida, o sonho desfeito. A televisão formou a ideia de que tudo o que é importante é imediato. Num roldão, deixámos de nos reconhecer e, numa bizarra mistura de serenidade e de impaciência, aceitamos as imposições de uma casta difícil de definir - a não ser por uma notória mediocridade.

O triste povo, de rosto taciturno e alma acabrunhada, designado por Unamuno, desfez a fatalidade predominante, quando se insurgiu contra o opressor. Veio para a rua e ergueu 1383, 1640, 1820, 1910, 1974. O festim durou pouco. A liberdade não tem consequências simples. Exige respostas práticas e decisões amplas. E assistiu-se à desintegração da coesão social, em nome de uma Europa, cujos propagandistas proclamavam o contrário. Um pouco por todo o lado, a democracia é seriamente abalada. Em Portugal, já apenas se manifestam resquícios dela. O que se sobreleva são o medo, a precariedade no trabalho, o desemprego, e a imposição de que o nexo entre o social e o político pertence a dois blocos de interesses: ao PS e ao PSD. Desvalorizada a ideia de bem comum, exacerbou-se os interesses particulares e inculcou-se sorrateiramente o pensamento de que nada há a fazer. Claro que há! Mostra-me o teu talento; não me mostres o cartão do partido, disse Brecht, a um actor que lhe apareceu no Berliner Ensemble, resguardado com o facto de ser militante comunista. E correu com o apadrinhado. A lição não perdura. Estabelecida a vocação da cunha partidária, o instinto de independência moral provoca indiferença e, até, hostilidade. A inteligência, o mérito, a integridade e a habilitação são castigados como delitos. O que se observa, nos tristes casos da BCP e da Caixa Geral de Depósitos, com a disputa da pertença circunscrita aos assim chamados partidos de poder, reflecte o mais atroz impudor. As exclusões permitem-nos concluir que o PS e o PSD perderam o respeito pelos portugueses e a dimensão colectiva que se lhes exige. Aliás, o projecto inscrito na exigência de um mínimo de cinco mil militantes por partido e a revelação dos seus nomes é desprezível, por equivaler a uma estratégia de poder absoluto do centrão. É preciso conciliar os vínculos morais com os traços distintivos das nossas indignações.


B.B.

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segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

ALENTEJO

Ser alentejano

não é um dote,


é dom.


Palavra mágica que começa no Além e termina no Tejo, o rio da portugalidade. O rio que divide e une Portugal e que, à semelhança do Homem Português, fugiu de Espanha à procura do mar.

O Alentejo molda o carácter de um homem. A solidão e a quietude da planície dá-lhe a espiritualidade, a tranquilidade e a paciência do monge; as amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe a resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro. Não é alentejano quem quer. Ser alentejano não é um dote, é um dom. Não se nasce alentejano, é-se alentejano.

Portugal nasceu no Norte, mas foi no Alentejo que se fez Homem. Guimarães é o berço da Nacionalidade; Évora é o berço do Império Português. Não foi por acaso que D. João II se teve de refugiar em Évora para descobrir a Índia. No meio das montanhas e das serras, um homem tem as vistas curtas; só no coração do Alentejo, um homem consegue ver ao longe.

Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino, depois de dobrar o Cabo das Tormentas, sem conseguir chegar à Índia, para D. João II perceber que só o costado de um alentejano conseguia suportar com o peso de um empreendimento daquele vulto. Aquilo que, para o homem comum, fica muito longe, para um alentejano, fica já ali. Para um alentejano, não há longe, nem distância, porque só um alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.

Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar... E, quando regressou, ao perguntar-lhe se a Índia era longe, Vasco da Gama respondeu: «Não, é já ali.». O fim do mundo, afinal, ficava ao virar da esquina.

Para um alentejano, o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde não se chega sem parar de andar. E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar onde Bartolomeu Dias tinha parado. O problema de Portugal é precisamente este: muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, que desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. Ou seja, muitos portugueses e poucos alentejanos.

D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso. Caso contrário, não teria partido tão confiante para Aljubarrota. D. Nuno sabia bem que uma batalha não se decide pela quantidade mas pela qualidade dos combatentes. É certo que o rei de Castela contava com um poderoso exército composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis tinha a vantagem de contar com meia-dúzia de alentejanos. Não se estranha, assim, a resposta de D. Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica: «Vocês são muitos? O que é que isso interessa se os alentejanos estão do nosso lado?»

Mas os alentejanos não servem só as grandes causas, nem servem só para as grandes guerras. Não há como um alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida. Por isso, se diz que Deus fez a mulher para ser a companheira do homem. Mas, depois, teve de fazer os alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer. Na cama e na mesa, um alentejano nunca tem pressa. Daí a resposta de Eva a Adão quando este, intrigado, lhe perguntou o que é que o alentejano tinha que ele não tinha: «Tem tempo e tu tens pressa.» Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum. E muito menos ao coração de uma mulher. Andar a correr é um problema que os alentejanos, graças a Deus, não têm. Até porque os alentejanos e o Alentejo foram feitos ao sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.

E até nas anedotas, os alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual. Os brancos contam anedotas dos pretos, os brasileiros dos portugueses, os franceses dos argelinos... só os alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios. E divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem de espelho a quem as ouve.

Mas, para que uma pessoa se ria de si própria, não basta ser ridícula, porque ridículos todos somos. É necessário ter sentido de humor. Só que isso é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama.

Não se confunda, no entanto, sentido de humor com alarvice. O sentido de humor é um dom da inteligência; a alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. Não há maior honra do que ser objecto de uma boa gargalhada. O sentido de humor humaniza as pessoas, enquanto a alarvice diminui-as. Se Hitler e Estaline se rissem de si próprios, nunca teriam sido as bestas que foram.

E as anedotas alentejanas são autênticas pérolas de humor: curtas, incisivas, inteligentes e desconcertantes, revelando um sentido de observação, um sentido crítico e um poder de síntese notáveis.

Não resisto a contar a minha anedota preferida. Num dia em que chovia muito, o revisor do comboio entrou numa carruagem onde só havia um passageiro. Por sinal, um alentejano que estava todo molhado, em virtude de estar sentado num lugar junto a uma janela aberta. «Ó amigo, por que é que não fecha a janela?», perguntou-lhe o revisor. «Isso queria eu, mas a janela está estragada.», respondeu o alentejano. «Então por que é que não troca de lugar?» «Eu trocar, trocava... mas com quem?»

Como bom alentejano que me prezo de ser, deixei o melhor para o fim. O Alentejo, como todos sabemos, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água. Água é aquilo por que qualquer alentejano anseia. E o pão... Mas há melhor iguaria do que o pão alentejano? O pão alentejano come-se com tudo e com nada. É aperitivo, refeição e sobremesa. E é o único pão do mundo que não tem pressa de ser comido. É tão bom no primeiro dia como no dia seguinte ou no fim da semana. Só quem come o pão alentejano está habilitado para entender o mistério da fé. Comê-lo faz-nos subir ao Céu!

É por tudo isto que, sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de Inverno, dou graças a Deus por ser alentejano. Que maior bênção poderia um homem almejar?

REXISTIR

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POR UMA SONORA GARGALHADA, AO RITMO DO MANIFESTO ANTI-DANTAS







Dizem que Armando Vara é o novo nome de Paulo Teixeira Pinto, isto é, que o PS já substituiu o PSD, na função de aliado preferencial da direita dos interesses, isto é, nesse conúbio de oportunismo capitaleiro com o castífero ver se te avias.







Entretanto, recebo cartas electrónicas, onde um socialista de sempre me descreve o país real: o cenário é desolador. Os cérebros estão atrofiados, a mentira é rainha reconhecida, a mediocridade tomou conta de tudo. A escuridão apoderou-se de tudo. Mesmo os que contém alguma capacidade crítica, rapidamente dela abdicam a troco de uns míseros soldos.


Todos estão a funcionar por objectivos, mas são objectivos que se resumem à posse de um automóvel um pouco mais comprido, de uns fatos um pouco mais caros, ou de uma casa com mais uma assoalhada.




No fundo, todos os dominantes procuram o pé de meia, depois de se cansarem das estúpidas utopias que ora nacionalizaram os antigos patrões, ora se tornaram empregados dos novos ricos que os mesmos geraram. Porque, afinal, tudo continua como dantes, isto é, com os eternos donos do poder, dado que apenas variam os feitores, os capatazes, os regedores, os propagandistas e as homilias.

Infelizmente, a classe política a que chegámos satisfaz-se com reformas, aposentadorias e uns lugarzecos na mesa do orçamento ou da fiscalização bancária, assim se tornando patente a impotência de um poder político, fácil presa tanto do neocorporativismo das velhas ordens do partido dos funcionários, como do neofeudalismo do permanecente partido da fidalguia.

E não há pronúncia do Norte, fazedora do agenda setting da oposição, que, na sua metralha de criação de factos políticos, consiga disfarçar o óbvio: o triunfo do cepticismo gerado por Fontes Pereira de Melo, de que Cavaco Silva e o respectivo Bloco Central são os legítimos herdeiros, como se demonstra pela discussão sobre a cabeça que vai engalanar a Caixa Geral de Depósitos onde o CDS já colocou a sua ex-ministra da justiça.
Porque se a escolha recair entre Miguel Cadilhe e Manuel Dias Loureiro, que venha o Proença de Carvalho desempatá-la, dado que Ângelo Correia tem que continuar a fazer discursos de bota abaixo.





E depois de tudo isto, nem Sócrates pode gozar de umas curtas e retemperadoras férias, sempre com esta sarna, com muitos pés de Berardo e cócegas de Menezes, quando estas coisas sempre foram resolvidas eclesiasticamente, atrás das cortinas, ou por debaixo da mesa, de maneira a que a democracia fosse salvaguardada, isto é, que o povão não percebesse quem efectivamente manda, neste mundo esotérico do grande capital, feito de muitas quintas, quintais e quintarolas, onde todos jogam à bisca lambida da canasta, sem que nos emprenhem de ouvida no telejornal.

Ingratos lusitanos, descendentes do Oliveira de Figueira, que não reparam como já escalámos o promontório dos séculos, conquistando um lugar no céu dos princípios.
Hoje não há fome, peste ou injustiça, dado que o presente presépio é esta renascida belle époque, onde as criancinhas já não precisam de aprender o abcedário nem a tabuada, bastando-lhe as consolas da nintendo.




Neste Natal, da conspiração de avós e netos, com as televisões em transmissões tipo RTP-Memória, entre José Hermano Saraiva e Mário Soares, com intervalos de Manuel Oliveira e José Saramago, todos somos sepulcros caiados de branco, escrevendo relatos de além túmulo, na eterna conspiração de avós e netos.
Por outras palavras, precisamos que um qualquer Almada venha emitir novo manifesto anti-Dantas, porque muitos já estão fartos de casacas acolchoadas, sapatinhos de verniz a ombreiras almofadadas, com o consequente conceito de pátria portuguesa.



O meu feliz Natal existiria se meia dúzia de inconformistas se juntassem, saudando o nascer de novo, nem que fosse para a emissão de uma sonora gargalhada ao ritmo do tal manifesto anti-Dantas:


Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi.
É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos!

É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra!
PIM!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!

O Dantas é um cigano!

O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias para cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!

O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!

O Dantas é um habilidoso!

O Dantas veste-se mal!

O Dantas usa ceroulas de malha!

Não é preciso ir pró Rossio para se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se para se ser salteador, basta escrever como o Dantas!

Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos!

Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões!

Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos!

O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
ODantas é um autómato que deita para fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!

O Dantas é um soneto dele próprio!

O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.

Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!

O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!

O Dantas é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!

E ainda há quem lhe estenda a mão!

E quem lhe lave a roupa!

E quem tenha dó do Dantas!

E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!

E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa?

Não Mil vezes não!

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo!

O país mais selvagem de todas as Áfricas!

O exílio dos degradados e dos indiferentes!

A África reclusa dos europeus!

O entulho das desvantagens e dos sobejos!

Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Dantas, morra! PIM!

José de Almada Negreiros

Poeta d'Orpheu

Futurista

E Tudo


JAM

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domingo, 23 de dezembro de 2007

EU JÁ SABIA QUE O ILUSTRE / DE"PUTEDO" DO DISTRITO DE PORTALEGRE

ERA UM GRANDE BURRO


(Miranda Calha
em entrevista ao
Semanário)


NUNCA PENSEI QUE FOSSE

O MAIOR JUMENTO

DA


CIDADE DE PORTALEGRE!

Francisco Silva

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LOBOS E CORDEIRINHOS

1. Por causa das gravuras supostamente paleolíticas de Foz Coa (algumas desenhadas há 30 anos) deixou de se fazer uma barragem que era importante para a regularização do Douro; e, por não se ter feito essa barragem, vai avançar-se agora com a respectiva compensação, que é uma barragem no Sabor - um dos últimos rios despoluídos e em estado natural do país - que terá consequências ambientais desastrosas.
Mas, na altura, Guterres e Carrilho queriam inaugurar o seu Governo com uma caução cultural, cavalgando uma onda de demagogia imaginada por uma inteligente máquina propagandística de interessados em arranjar um tacho no futuro Parque Paleolítico do Coa.
As gravuras não sabem nadar
, gritavam eles. E, porque as gravuras não sabem nadar, destrói-se o rio Sabor.

Tempos depois, foi a vez das pegadas da passagem de um dinossauro na CREL.
Achado arqueológico de extrema importância
, arranjou logo os seus acérrimos defensores.
Fez-se então um túnel, para preservar por cima as marcas indeléveis da passagem do dinossauro excelentíssimo.
Tal como em Foz Coa, as boas almas que se encarregam de desbaratar dinheiros públicos a qualquer pretexto juraram que o local seria ponto de permanente romaria de criancinhas das escolas, levadas compulsivamente, e de milhares, milhões de adultos, idos voluntariamente, em súbito fervor histórico-cultural. E só a chegada do défice evitou que ao túnel se juntasse ainda um museu do dinossauro.
Mesmo assim, milhões e milhões e milhões depois, duvido que mais de uma dúzia de curiosos por ano se preocupe em ir ver as pegadas do bicho; e, quanto a Foz Coa, retenho a exclamação sentida de uma habitante local, aqui há tempos: Até agora, ainda não ganhámos nada com as gravuras!
Pois não , minha senhora, mas isto de ganhar dinheiro sem fazer nada, apenas abrindo a torneira do Estado, não acontece todos os dias.

Agora, li aqui que, por cima da A-24, entre Chaves e Vila Pouca de Aguiar, se fez um loboduto, para que os distintos animais (que não se sabe ao certo quantos são) não vejam interrompidos os seus supostos territórios de passagem na serra da Falperra.
Eu acho o lobo um animal interessante e Deus me livre de não os querer preservar.
Mas, francamente, 100 milhões de euros (20 milhões de contos!) por um loboduto - onde, ainda por cima e segundo testemunhos locais, é improvável que venha a passar algum lobo, porque não só não se sabe se eles existem mesmo ali como ainda se sabe que ao lado existe uma pedreira que costuma fazer explosões - parece-me um bocadinho, como direi, talvez exagerado?... Vamos admitir que existem por ali dez lobos, a quem aquilo facilita a vida; vamos mesmo admitir que existem vinte: um milhão de contos por lobo não será de mais?
Quantos anos, e sempre com gravíssimos problemas de saúde e assistência, não teria de viver um português para que o Estado gastasse com ele um milhão de contos?

Como se conseguiu chegar a este verdadeiro deboche contabilístico? Segundo conta o Expresso, da maneira mais simples e mais habitual: através da contratação de estudos e pareceres técnicos a especialistas.
A consultadoria para o Estado - um dos mais prósperos negócios que existem em Portugal.

2. Pela mesma altura de Foz Coa - governava Guterres e era ministro da Economia Pina Moura -, a consultadoria externa levou o Estado a celebrar outro extraordinário negócio. Existia uma empresa privada, a Grão Pará, que parece que tinha o mau hábito de se esquecer de pagar à Segurança Social. Já uma vez tinha conseguido negociar de forma a que o Estado lhe pusesse as dívidas a zero, mas, anos depois, estava outra vez na mesma situação. Como resolver o problema?
Por dação em pagamento.
Acontece que a dita empresa tinha dois bens, qual deles o mais valioso.
Um era um hotel no Funchal, construído ao lado do que dava para imaginar facilmente que um dia seria o prolongamento da pista de aterragem do aeroporto.
Quando a pista foi mesmo prolongada, o hotel ficou condenado à falência, porque não há muitos hóspedes que queiram dormir onde aterram aviões.
O outro era o Autódromo do Estoril, onde sucessivas injecções de dinheiros públicos não tinham conseguido o milagre de o tornar rentável nem sequer de lá manter a Fórmula 1. E foi com estes dois bens falidos que o Estado se contentou em troca do perdão da dívida.
Na altura escrevi um artigo perguntando como é que um Governo que tudo queria privatizar se lembrava de nacionalizar um autódromo e como é que o Estado transformava um crédito num encargo financeiro para si.
Respondeu no mesmo jornal o ministro Pina Moura.
Dizia que o autódromo era essencial para o turismo e para o interesse público e que, feitas umas pequenas obras de melhoramento, logo regressaria a Fórmula 1 e lucros a perder de vista.

Passaram-se dez anos e o Autódromo do Estoril, depois de dezenas de milhões de euros de dinheiros públicos gastos em melhoramentos, manutenção e honorários dos seus administradores (e, obviamente, sem jamais voltar a ver a Fórmula 1 ou qualquer coisa que se parecesse), foi esta semana posto em leilão público por 35 milhões de euros.
Não apareceu nenhum interessado.
Pelo que, das duas uma: ou se arrasa e urbaniza tudo aquilo (fazendo mais uma alteração legislativa, porque os terrenos são de construção proibida), ou teremos de continuar a suportar eternamente os custos deste brilhante acto de governação.

3. E sabem porque é que estas coisas acontecem?
Porque há um poderosíssimo lóbi de consultadoria instalado à mama do Estado, há anos sem fio, que dita, influencia e condiciona as decisões dos executivos. Para 2008, o Governo orçamentou 370 milhões de euros (!) para gastar com eles em estudos, pareceres, projectos e consultadoria.
Eles, quem?
Pois, isso é segredo de Estado, há um ano que o semanário Sol tenta obter, ao abrigo da Lei de Acesso aos Documentos Administrativos, a lista dos beneficiários deste bodo.
Em vão.
O Governo fecha-se em copas e os tribunais administrativos protegem-lhe a manha.
É que, se visse a público a lista das eminentes personalidades, dos ilustres técnicos e dos influentes escritórios de advogados e consultores que entre si fazem assessoria aos governos - seja para comprar armas, submarinos ou autódromos ou para dar parecer técnico sobre lobodutos ou contratos com Angola -, uma grossa fatia da respeitabilidade pública desabaria por terra.

Repito o que de há muito venho dizendo: em termos de cidadania, há duas espécies de portugueses - os que vivem a pagar ao Estado e os que vivem a tirar ao Estado. E o resto é conversa de comendadores ou de benfeitores
.

Miguel Sousa Tavares

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ONDE ESTÁ O PSD?


É só uma questão de tempo até os jornais começarem a perguntar onde está o PSD, onde está Menezes, onde está a oposição vinda do partido que é suposto "liderá-la", que não se vê em parte nenhuma. O PP, o PCP e o BE, nalguns casos mesmo alguns raros dissidentes do PS socrático, têm criticado o Governo, enquanto o PSD passa entre as sombras, ou ficando pura e simplesmente silencioso, ou murmurando umas críticas de circunstância que ninguém ouve, ou, em muitos casos, concordando com o Governo e o PS. O único "não" sonoro que se ouviu foi a recusa do empréstimo à Câmara de Lisboa, acompanhado por uma condução política que primou pela completa inépcia. Esse é daqueles que mais valia não se ter ouvido, sem com isso dizer que Costa tinha razão, que não a tinha.

A pergunta do "onde está" é tradicional na comunicação social e nalguns casos foi feita com estragos consideráveis, como aconteceu com Vítor Constâncio à frente do PS. A pergunta em si é pouco relevante, porque o que a comunicação social quer é festa e, quando acha que não a tem, clama por actores no palco. Admito que os tempos agora não estarão como estavam no tempo de Constâncio, nem a dedicação carinhosa da comunicação social ao PSD é idêntica à que na época prodigalizava ao PS, cujo estado a preocupava. Mas, quando vier a pergunta, será mais para a coreografia do que para a substância, porque esta está há muito respondida: de há uns tempos a esta parte, o PSD está onde está o PS.

A razão pela qual o PSD se ausentou para parte incerta foi explicada na pouco noticiada conferência de imprensa "oferecedora de pactos", antecedendo o debate parlamentar de "primeira oportunidade" entre Sócrates e Santana Lopes. Desde aí que se conhecem as razões de substância para este já longo silêncio: o PSD aproximou-se politicamente do PS como nunca esteve antes, ao ponto de se oferecer para co-governar em praticamente todas as áreas. Na conferência e em declarações avulsas - da política externa à política europeia, passando pela defesa, segurança interna e legislação eleitoral, e acabando no célebre "pacto das obras públicas", a que se soma o "pacto da justiça" vindo do tempo de Marques Mendes -, o PSD faz uma abdicação da diferença, da alteridade, da oposição.

O que nos é dito é que em Janeiro tudo vai mudar, aparecerão propostas e tomadas de posição, vai começar a oposição "a sério", quando estiverem gabinetes e assessores a funcionar. É um pouco bizarro que se anuncie um tempo de adiamento da oposição, uma paragem para uma retoma anunciada, quando antes tudo era tempo urgente. Menezes criticava Marques Mendes por não fazer oposição dia a dia, minuto a minuto, fogosa, ardente, caso a caso, para o que, dizia, não faltavam temas nem razões e que "com ele" isso iria mudar radicalmente. Já não me refiro às idas às fábricas que encerraram - entretanto já encerraram várias -, mas a um estilo prometido de pathos oposicionista, comunhão com o povo e de entusiasmo militante, que, de todo, não se vê. Não é que o estilo prometido fosse bom, mas foi o que foi prometido, antes deste enorme esforço de respeitabilidade fabricado por agências de comunicação. Estas flutuações matam o flutuante, mas, infelizmente, são o que é normal, quando se actua para uma sociedade do espectáculo.

Permitam-me por isso que duvide da ofensiva putativa de Janeiro, porque a diferença não se faz com mais ou menos "estudos", "porta-vozes" ou "governos-sombra". Faz-se em primeiro lugar com políticas e não faltaram ocasiões nos últimos meses para se ser firme e duro com a política de um governo que está a empobrecer-nos a todos em nome de um modelo "social" que não tem futuro. Isto, na hipótese de o PSD ter um modelo diferente, que só pode ser mais liberal, mesmo que só moderadamente liberal, o que já não era mau.

Quando dois partidos se colam tanto que pouco se diferenciam, o que sobra para a luta política tende a ser incidental, conjuntural: esta nomeação, aquela opção por Ferreira de Cima em vez de ser por Ferreira de Baixo e várias variantes de questões "fracturantes", que em muitos casos são distracções dos problemas centrais de poder político e remetem para agendas em que nem sequer é líquido que o Estado e o poder político devam entrar.

Este "bloco central" político esteve sempre dentro do PSD, como esteve e está no PS e é uma sobrevivência de laços de interesses profundos representados nos dois partidos e que, depois, encontra expressão no rastro salazarista antidemocrático dos consensos. Nos primeiros anos da democracia, este "bloco central" concentrava-se em exercer o poder através da economia nacionalizada pós-1975, daí poder ser representado simbolicamente na cena real de responsáveis dos dois partidos reunidos a distribuir os lugares de gestores públicos nas empresas: estes dois são para mim, este fica para ti, este vai para a TAP e dou-te dois na CP, mas este da EDP não pode ser comparado como este na Imprensa Nacional, etc., etc. Este tipo de partilhas que durou até há muito pouco tempo e em muitas áreas, a começar nas autarquias e nas empresas municipalizadas, ainda está longe de ter acabado.

Mas o "bloco central de interesses" evoluiu com a economia, e adaptou-se às privatizações, deslocou-se para fora do Estado e foi para os grupos económicos, para os bancos, as seguradoras, as empresas de construção civil, etc., etc. Quase que se pode formular uma regra simples: quanto mais depender um grupo económico de decisões do governo para conduzir a sua actividade empresarial, tanto maior é a presença deste "bloco central de interesses" no seu seio. A deslocação do Estado para o privado significa que os mecanismos de influência tendem a deslocar-se de fora para dentro, a centrar-se na mediação de negócios, assentes em empresas de consultadoria e em grandes escritórios de advogados, que todos sabem serem as portas certas para chegar ao governo, este e os anteriores. Quando um partido político, ainda por cima na oposição, se demarca deste jogo de interesses instalado, as suas lideranças são sujeitas a um processo que começa pela descredibilização e acaba na tentativa de expulsar os incontroláveis. Marcelo Rebelo de Sousa, num momento da sua liderança, quando contestou alguns grandes negócios, foi sujeito a essa campanha.

É verdade que no PSD há a presença deste "bloco central", mas há também uma tradição de ruptura que, no passado, tornou o partido na principal força reformista em Portugal. O PS foi crucial na defesa da democracia política em 1975, o PSD foi crucial na normalização democrática. Sem o PSD, na fórmula da AD de Sá Carneiro, não se iria tão longe e tão cedo no fim da presença militar na tutela da democracia. Sem Cavaco Silva não haveria uma cultura de "bom governo", o fim da Constituição socializante na economia, o retorno à economia de mercado, o boom de infra-estruturas, a democratização do ensino, uma modernização imperfeita mas real do país. Ambos associaram um programa de reformas à alteração das condições políticas dominantes em momentos desejados e sentidos como de ruptura: Sá Carneiro e Freitas do Amaral mostraram que outros partidos podiam governar Portugal que não apenas o PS, e Cavaco abriu caminho para as maiorias absolutas como condição de governabilidade.

Se estamos no caminho do bonnet blanc, blanc bonnet, como dizem os franceses, esta é a melhor receita para matar o lado reformista do PSD, o de Sá Carneiro e Cavaco Silva. Sem esse lado reformista, o PSD ficará tão próximo do Governo e do PS que, à luz de um, não se vê a sombra do outro. E nem de holofote a laser, banhado no mais forte néon, Diógenes encontrará qualquer homem na cidade.


José Pacheco Pereira

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